Os Pilares do Yoga
- Helena Borges
- 10 de jun. de 2024
- 4 min de leitura

Sabemos que Yoga não é apenas uma atividade física. Quando dizemos que somos praticantes de Yoga devemos ter em mente que isso envolve um compromisso ético com todos os seres.
Os pilares fundamentais do Yoga são chamados Yamas e Niyamas, são os princípios de onde parte o Yoga, o próprio caminho do Yoga e também seu ponto de chegada.
Yamas
São a ética do Yoga, em cinco fundamentos:
Ahimsa - não violência. Atitude pacífica direcionada a qualquer ser. Não significa aceitar que façam qualquer coisa a nós, nos defendemos se for preciso, mas não atacamos nenhum ser sem necessidade. Isso requer bastante consciência e presença no aqui e agora. Podemos nos valer das ferramentas do Yoga para desenvolver essa consciência e presença para perceber nossos padrões e evitar reações impulsivas que possam ferir os outros e nós mesmos.
Satya - não mentir. Alinhamento entre pensamentos, palavras e ações é o que busca a pessoa que pratica Yoga. Muitas vezes pensamos algo mas falamos o contrário do que pensamos e agimos ainda de maneira diferente daquilo que é a nossa Verdade. Existem algumas verdades próprias, podemos escolher entre diferentes formas de viver, por exemplo. Ninguém pode dizer o que é certo ou errado para você, te dizer o que deve fazer ou deixar de fazer. Mas existem verdades universais, como a ética. É uma questão de bom senso. A verdade deve ser dita também lembrando de Ahimsa, evitando ferir a outra pessoa. O Yoga diz que a Verdade protege a pessoa. A pessoa íntegra está sempre protegida.
Asteya - não roubar. Agir com honestidade e integridade. Isto significa não roubar não só bens materiais, mas também mérito, tempo ou paciência dos outros. Tem a ver também com o equilíbrio entre dar e receber. Asteya também está ligado às nossas atitudes em relação à Natureza e a todos os seres que dividem o Planeta com a gente. Não estamos acima deles, não somos mais nem menos importantes que os outros seres, todos temos o mesmo direito de existir. Retirar mais da Natureza do que sua capacidade de regeneração também vai contra esse princípio.
Brahmacarya - não desperdiçar energia. Conservação da energia vital, em todos os níveis. No nível físico, equilibrando atividade e descanso. No nível mental e emocional, evitando estresse, negatividade e preocupação excessiva. Equilíbrio também nas relações, evitando aquelas que nos sugam ou sugando os outros, pois isso também é gasto de energia desnecessário. Está muito associado à energia sexual, não significa não usufruir dessa energia, mas sim não desperdiçá-la. Também associa-se a viver com conforto, mas sem desperdícios (como Asteya). Com isso surge uma grande força interior para a disciplina e o estudo. Brahmacarya é o não desperdício de energia própria e também dos outros. A energia vital deve ser direcionada para aquilo que é realmente importante e que contribui com o todo.
Aparigraha - não apego. Refere-se a coisas materiais, situações, passado, futuro, ideias e pessoas. Quanto mais apego temos, menos tranquilidade sentimos. Quanto mais coisas temos, mais tememos perder. Afinal, nada realmente nos pertence, assim como tudo o que temos veio a nós, pode ir a qualquer momento. Absolutamente nada garante que sempre teremos tudo o que agora possuímos. Viver estabelecido no apego apenas gera sofrimento, pois a natureza da vida é a mudança, a impermanência.
Podemos perceber a profunda relação entre os Yamas. Todos podem ser apenas um. Na não violência está implícita a verdade, o não roubar, não desperdiçar energia e o desapego. E assim por diante podemos observar cada um dos Yamas em todos eles. Tente fazer essa reflexão.
Niyamas
São prescrições, sugestões de hábitos proposto pelo Yoga. Os Yamas estão muito relacionados a nossa vida em coletivo, enquanto os Niyamas estão mais associados a nossa vida pessoal, mesmo assim também estão inter-relacionados .
Sauchan- purificação. Limpeza e pureza do corpo, tanto com as práticas purificatórias (shatkarmas), como com o cuidado com o que ingerimos. Pureza de pensamentos e emoções, atenção aquilo que “ingerimos” mentalmente. A prática de Yoga de forma geral é essencialmente purificatória.
Santosha - contentamento. Apreciar aquilo que temos para apreciar, sempre podemos agradecer. Aceitar a realidade como ela é e abraçar essa realidade. Essa aceitação é completamente diferente de resignação, não significa se acomodar em uma situação insatisfatória ou não se indignar com aquilo que gera indignação. Mas aceitar aquilo que agora é como é, o corpo, a mente, como são. Essa aceitação é fundamental para saber onde nos encontramos agora e assim poder mirar para onde queremos chegar e, principalmente, apreciar o percurso. O contentamento é inerente ao Ser e é uma prática sugerida pelo Yoga.
Tapas - disciplina. Esse é um ponto chave do Yoga. Disciplina é a capacidade de se manter constante em algo, sabemos que sem ela não atingiremos objetivos. A disciplina central no Yoga é estar com a mente voltada para o estudo de si mesmo. A disciplina do Yoga tem muito a ver com abandonar hábitos que atrapalham no caminho de autoconhecimento. Disciplina para se manter em aparigraha (não apego), svadyaya (auto-estudo) e Ishvara Pranidhana (entrega).
Svadyaya - auto-estudo. É tanto no sentido de conhecer nossos padrões de personalidade, nossas tendências reativas, como surgem nossas emoções, etc. Quanto o reconhecimento de si como o Todo. O Yoga aponta para aquilo que é impermanente, nossa essência, que não é visível e nem perceptível aos nossos sentidos.
Ishvara Pranidhana - Entrega à Ishvara. Realciona-se ao desapego, entregar e confiar no fluxo da vida. Ishvara é o amor que cria, permeia e sustenta tudo. A disciplina do Yoga é no sentido de direcionar-se ao autoconhecimento, para o conhecimento de si como sendo fundamentalmente o amor; o sentimento de não separação. Ishvara pranidhana é o reconhecimento da Unidade. Nós não podemos controlar o Universo, mas podemos reconhecer que pertencemos a ele e podemos nos entregar ao seu fluxo. E isso não depende de conquistar coisa alguma. A partir desse reconhecimento, podemos agir na realidade de uma outra forma.
Os Niyamas estão intrinsecamente conectados e também podem ser vistos como apenas um.
Com as práticas purificatórias podemos encontrar o contentamento inerente, assim com praticar o contentamento é purificador da mente. Disciplina também é purificadora tanto do corpo como da mente e com a purificação, que exige disciplina, também fica mais fácil ter disciplina.
O contentamento é uma disciplina, assim como a disciplina é altamente satisfatória e traz contentamento.
O estudo de si mesmo é também purificador da mente, é uma disciplina e, quanto mais nos conhecemos e entendemos, mais realizamos que somos essencialmente contentamento.
Procure fazer essa meditação reflexiva e observe como isso se relaciona à Ishvara Pranidhana.
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